domingo, 29 de maio de 2016

Um dia cheguei à Universidade…

… de Coimbra!

Ensino público para todos! Sem pestanejar! Sem pensar sequer noutra opção que não esta. A Escola é Pública e é lá que quero continuar a depositar a esperança da Educação deste País. Não sou contra o ensino privado, mas prefiro uma escola que dá oportunidade a todos. Se não fosse essa escola, hoje não poderia ter duas licenciaturas, uma pós-graduação e um mestrado.
Sou filho de dois operários fabris. Operários têxteis. Aquele setor que já pagou melhor que a construção civil, mas também caiu no maior fosso que se conhece na história da indústria. Sou filho de duas criaturas de Deus que tudo fizeram para que eu pudesse andar vestido como qualquer outro menino, tudo orientaram para que nunca me faltasse um prato de comida e sempre apostaram na minha educação. O bom resultado na Escola era a única exigência. Na escola pública, onde andavam todos os meus amigos lá da aldeia…
Fui seminarista. Ainda não sabia se queria ser padre, mas sabia que queria estudar a vocação. Dois anos foram internos. Reconheço a excelente formação. Mas lá pagava todos os meses a mensalidade. Depois voltei à Escola pública e residia no seminário, o 9º Ano na Secundária de Felgueiras e o 10º, 11º e 12º na Secundária de S. Mamede Infesta. Chega a Universidade. Entre decisões e confusões de um jovem sem conhecer o seu futuro, Coimbra e os Estudos Clássicos foram a primeira opção. E, mais uma vez, também a Universidade foi pública. Afinal, os meus pais continuavam a ser operários.
Como posso não defender a Escola Pública?
Foi graças ao ensino público que consegui realizar um sonho de menino. Queria ser Professor. E sou!
Conta-me o meu pai muitas vezes que antigamente só conseguia ir para a Universidade quem tivesse dinheiro. E falamos do ensino público, porque as privadas são recentes… E também me conta que só quem tinha uns terrenos, herdados de um regime fascista, é que tinha essa possibilidade.
Não precisamos investigar muito ainda hoje para perceber quem são os detentores de habilitações superiores. Basta conhecer as suas famílias. Também não precisamos de nos chatear para saber quando foi o virar da página e que formou tanta gente administrativamente, esse 25 de Abril serviu para muita coisa… Mas precisamos de perceber que se hoje há muitas mais famílias que têm filhos doutores e engenheiros é porque finalmente a Escola Pública veio para Todos.
Quero uma Escola pública para todos. Uma Escola que receba sem rotular, mas que proteja os mais desprotegidos. Uma Escola que permita aos filhos dos operários estudar. E que permita também aos outros todos.
Onde não há essa Escola, que seja equacionada a alternativa. Mas se a mim me foi dada essa oportunidade, bem ao contrário do tempo dos meus pais, é meu dever de cidadão defender esse direito para todos os outros jovens e, que estes, um dia façam o mesmo pelos que hão de vir.

in Jornal Povo de Fafe (27-05-2016)